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NANOCRÍTICA: Eu Sou o Número Quatro

 Se "Eu Sou o Número Quatro" fosse composto apenas de seu início (que possui um dos planos-sequência digitais mais deslumbrantes e complexos desde "O Quarto Do Pânico") e da parte que começa pouco depois de sua metade, seria um dos filmes mais legais dos últimos tempos.
 O problema é que o filme é recheado por um romancezinho com conotações fantásticas (a la "Crepúsculo") dos mais bunda-mole e insuportável.
 Quando o desastre parecia iminente, "Eu Sou o Número Quatro" ganha uma boa aditivada com cenas de ação grandiosas, efeitos visuais insanos, monstros bacanas e uma efervescência criativa digna da melhores HQs de super-heróis.
 Como longa-metragem este filme (baseado em livro homônimo de Pittacus Lore) de D.J.Caruso ("Controle Absoluto") daria um ótimo curta.
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AMOR A SABEDORIA

 Quero iniciar esta postagem já me desculpando pela ousadia (e possíveis  incongruências que eu possa vir a cometer neste meu texto) em querer tratar de um assunto tão sério, intrincado e fundamental como a filosofia.
 Muitos podem achar este meu pedido de desculpas (e até mesmo todo este meu texto) exagerado, pueril e francamente inútil, por girar em torno de algo tão "abstrato","infrutuoso" e "afetado".Termos depreciativos comumentes usados por pessoas ignorantes, de mente fechada e imaginação fraca para designar a filosofia. Algo que, lamentávelmente, só vem se potencializando cada vez mais nestes fúteis e descartáveis dias em que vivemos.  Aonde as pessoas são condicionadas pela grande maioria da sociedade e dos meios de comunicação, a cada vez pensarem menos e a consumirem mais, votarem mais, a acreditarem demais e questionarem de menos...enfim, a viverem cada vez mais dentro das trevas do desconhecimento de uma caverna escura, ignorando completamente o mundo que existe além dos limites desta caverna.
 Outro idéia recorrente que as pessoas tem sobre a filosofia é de que esta é uma ciência anacrônica, ultrapassada. Uma coisa já fora de uso desde os tempos de Sócrates e Platão a cerca de mais ou menos 460 anos A.C.
 Poucos sabem (ou se interessam em saber) que existe uma filosofia moderna, que trata e estuda em profundidade assuntos pertinentes a nossa época, como o impacto das novas tecnologias digitais em nossas vidas, as revolucionárias narrativas transmídia que oferecem uma imersão em mundos fictícios sem precedentes para os seus consumidores, as complexidades de se viver em um mundo e uma sociedade globalizados, etc.
 E para quem  acha que filosofia é coisa para mentes e comportamentos afeminadas e frágeis, saibam que uma das principais influências do mais arrojado e perverso mestre do horror da atualidade, o inglês Clive Barker, (considerado um novo Marquês de Sade) foi uma filósofa que defendia a subversiva idéia de que no fundo, todo o ser humano é doentiamente atraído pelo macabro, pela desgraça e pelo bizarro.
 Um dos nomes mais expoentes da filosofia moderna é o francês Pierre Levy, um filósofo que estuda as influências recíprocas entre a internet e a sociedade. Levy já chegou até a desenvolver com o seu amigo matemático Michel Authier um software livre.
  Assim como a física moderna foi inaugurada por Max Planck e Albert Einstein no início do século XX, a filosofia moderna tem seu marco zero nos sábios pensamentos e nos pormenorizados estudos do francês René Descartes no século XVII. E é Descartes e a sua revolucionária obra "Discurso Do Método" (editora L&PM POCKET,123 pág.) o principal foco desta postagem.
 Descartes foi um filósofo singular e inovador ao abandonar os estudos convencionais e usar o próprio mundo ( e tudo o que este tem de melhor e pior) como sala de aula e laboratório de pesquisas. Assim Descartes não foi apenas um pensador acadêmico, mas antes e acima de tudo, um filósofo da própria vida.
 Correu mundo, conheceu de reis e soberanos aos mais simples dos mortais, foi soldado voluntário e participou de várias guerras e batalhas e descobriu que para conseguirmos sobreviver nas sociedades humanas, devemos ter um amplo conhecimento sobre todos os tipos e gêneros de pessoas, conhecer toda a cadeia de engrenagens que movimentam o mundo dos homens.
 Ao se atirar de cabeça em um mundo de aventuras, perigos, violência e adrenalina para atingir o cerne do conhecimento e decifrar os maiores mistérios e enigmas que atormentam o homem, Descartes desvincula a filosofia de sua esfera unicamente contemplativa e passiva. 
 Depois de anos de preozas e façanhas, período em que fez "doutorado" sobre todos os aspectos da natureza humana, Descartes publica "Discurso Do Método", que abre as portas para a filosofia moderna e para o controvertido raciocínio cartesiano.
 Nesta obra o filosofo escancara a sua máxima de que todas as coisas devem ser sempre analisadas sobre a fria e infalível ótica da razão e do bom senso. Nada pode ser desacreditado, tampouco em nada também devemos acreditar, antes de esmiuçarmos tudo até chegarmos ao núcleo da verdade, uma verdade que sempre deve ser tão exata, irreversível e precisa quanto uma equação matemática.
 Em "Discurso do Método" nada (seja físico ou metafísico) escapa do crivo da lógica inexorável de Descartes: Deus, a alma, o funcionamento do corpo humano, a realidade e a crença em nossa própria existência (afinal como você pode ter a certeza absoluta de que realmente existe de verdade? Já parou para se perguntar isso)?
 Acredito que este eterno questionamento  acerca de tudo e todos de Descartes tenha, direta ou indiretamente, influenciado em maior ou menor grau vários tipos de movimentos contraculturais que vem ajudando a revolucionar a nossa sociedade através dos tempos: beatniks, hippies, punks, hackers, etc. Todos eles devem alguma coisa para a mente irrequietamente questionadora de René Descartes.
  E permeando toda esta obra estão os quatro ensinamentos fundamentais do filósofo francês para se conseguir levar uma vida guiada pela razão e pela sabedoria. Mas não se engane pensando se tratar de algo típico de livros de auto-ajuda. As doutrinas de Descartes requerem de quem quiser seguí-las um grande esforço físico, desafio intelectual e personalidade forte.
 "Discurso Do Método" é a prova de que nem todas as grandes obras da literatura precisam ser calhamaços rebuscados e caríssimos.
  Este é um pequeno e insignificante livro (que provavelmente passa despercebido pela maioria dos frequentadores de livrarias e sebos), mas que esconde dentro de suas páginas conhecimentos avassaladores capazes de tranformar tanto um único indivíduo, quanto uma sociedade inteira.