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Mulheres No Front



 O futuro é guerra!!!
Atari Teenage Riot



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Manhã de 11 de setembro de 2001: sol brilhante, temperatura amena, céu azul límpido, 0% de nuvens. O inverno macabro e escuro começando o retorno à sua catacumba e cedendo espaço para a alegre e luminosa primavera. Eu caminho despreocupado pela rua achando que nada pode estragar aquela afável manhã...
 De repente, começo a perceber um padrão que se repete: várias pessoas ao meu redor comentando, com um misto de surpresa, espanto e incredulidade, sobre um ataque terrorista aéreo nos Estados Unidos.
 Hoje, olhando para atrás, eu acredito que foi naquele exato instante que o Século XXI havia realmente começado para mim e para o resto do Mundo.
 Não dou muita bola para os comentários, afinal, minha geração tinha crescido com noticias sobre guerras e violência dividindo espaço na tv com desenhos animados, seriados e novelas.
 Chego em casa, ligo a televisão: todos os canais mostrando a mesma coisa: uma das gigantescas torres do World Trade Center cospe fogo e fumaça por todos os lados.
 No Plantão de Notícias da Rede Globo o jornalista Carlos Nascimento narra o fato com o mesmo tom de voz tenso e incrédulo da maioria das pessoas que estão vendo aquela imagem simultaneamente pelos quatro cantos do Mundo.
 Parece que estamos vendo um filme...É a fala de Nascimento que fica marcada a ferro e fogo em minha memória.
 De repente, ao vivo, em tempo real, eu vejo a História se desenrolar em frente aos meus olhos: o segundo avião perfura a outra torre do WTC como uma faca, uma lança, um míssil. Uma gigantesca língua de fogo aravessa verticalmente a torre de uma ponta a outra.
 Nascimento, como o resto do Mundo naquele momento, surta: grita, não fala coisa com coisa.
 FIM DO MUNDO! CAOS! TERCEIRA GUERRA MUNDIAL! São os únicos pensamentos que tomam conta da população planetária como se fossem uma pandemia global que se espalha a velocidade da luz.
 Enquanto isso, eu ainda não havia me dado conta de que havia tido o privilégio de assistir ao vivo ao maior ataque terrorista da história. Muito obrigado Mundo moderno.
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 Uma noite qualquer no início dos anos 1980: as imagens em preto e branco do Jornal Nacional em minha velha televisão Phillips mostram aquelas mesmas notícias de sempre que de tão triviais, mesmo para uma criança abaixo dos dez anos de idade como eu, não impressionam mais: fanáticos do Oriente Médio metem fogo ao próprio corpo, cidades destruídas em meio a desertos infernais, tanques de guerra, rolos de fumaça negra, crianças chorando de fome, mães desesperadas, homens feios de pele escura gritam e apontam metralhadoras para as câmeras dos jornalistas. Guerra Santa. Guerra do Petróleo. O aiatolá Khomeini  é o Bin Laden oitentista.
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 1991: a jurássica Phillips P&B deu lugar a uma National/Panasonic colorida. A televisão evoluiu, mas as imagens que ela exibe não mudaram muito: ventos e tempestades de areia fazem as chamas de corpos carbonizados dançarem loucamente. Maquinário de guerra pesado trocam os desertos do Irã pelos do Kwait. Soldados americanos armados até os dentes com o mais letal arsenal high-tech se dilaceram com guerrilheiros árabes miseráveis armados até os dentes com o mais letal fanatismo religioso.
 Poços de petróleo vomitam chamas gigantescas como se fossem as bocas do Tártaro.
 O que muda é que agora esta é a guerra das máquinas, dos computadores, da cibernética, da alta tecnologia, das comunicações instantâneas.
 Pela primeira vez um conflito bélico é transmitido em tempo real para todos os lares do Mundo.
 O massacre virou um reality show. A carnificina é um vídeo-game. É a guerra do futuro.
 Fade out                      


  Ok. Os três parágrafos acima servem como uma rápida síntese para mostrar ao leitor um panorama geral do histórico do caldeirão fervente de sangue, suor, facciosismo religioso/político e cobiça assassina que é o Oriente Médio desde a década de 1980, na verdade as tretas com os árabes vem desde a época das cruzadas, mas aí eu eu vou acabar digitando um tratado de História Bélica..., e expor que a jihad terrorista muçulmana, a décadas, já era uma bomba atômica que ameaçava explodir sobre as cabeças de nós, ocidentais, a qualquer instante.
 Entretanto, foi só após o 11 de setembro, quando a bomba atômica, de fato, explodiu, que as mídias e a cultura pop resolveram explorar o problema de maneira mais séria e aprofundada.
 E é claro que um dos meios de Comunicação de Massa e expressão artística mais influentes e cultuados, o cinema, logo ficou ávido por investigar o avesso e o direito do lado negro do Oriente Médio.
 Ao contrário da intervenção militar norte americana no inferno verde vietnamita em que antes da guerra acabar Hollywood já mostrava na telona as entranhas do conflito, mesmo que de forma torta e nacionalista como em Os Boinas Verdes (The Green Berets/EUA, 1968), de John Wayne e Ray Kellogg, e logo após o fim das atrocidades marciais no Sudeste Asiático, quando as chamas do napalm e o cheiro de sangue inocente ainda estavam bem vívidos na memória do povo norte-americano, o cinema esfregava a cara dos espectadores ianques no lodo de desumanidade que os militares americanos haviam provocado e sofrido no Vietnã através de produções brutais, sombrias e ultra realistas como Amargo Regresso (Coming Home/EUA,1978), de Hal Ashby e Apocalipse Now (EUA, 1979), de Francis Ford Copolla, as conflagrações no Irã, Afeganistão, etc eram abordadas escassamente por cineastas e produtores. E quando o faziam era de forma inverossímil como no legal, mas falacioso, blockbuster Rambo 3 (EUA,1988), de Peter MacDonald. Películas mais sérias sobre o assunto, a exemplo de A Fera da Guerra (The Beast/EUA, 1988), de Kevin Reynolds, eram lançados nos cinemas de forma tímida e logo se tornavam filmes obscuros e esquecidos.
 Mesmo quando os Estados Unidos tinham uma participação direta, como na Guerra do Golfo no Kwait no início da década de 1990, Hollywood, praticamente, não tocava no assunto.
 Pois, como diz o ditado: Pimenta nos olhos dos outros, os "outros" no caso, seria a população miserável, e descartável, do Oriente Médio, é colírio.
 Quando o boing 737 da American Airlines pulverizou em segundos centenas de pessoas inocentes no WTC transferindo todo o horror e o radicalismo da jihad para o coração do Império Capitalista do mundo civilizado, fazendo com que os gringos sentissem o gosto de seu próprio veneno, que Washington, e todos os meios de comunicação norte americanos, se tocou do pepino que tinha em mãos...
 A paulada do 11 de setembro foi tão feroz e traumática que, a princípio, nenhuma mídia teve coragem para abordar o assunto. Várias produções cinematográficas que tocavam em tópicos como terrorismo, explosões ou qualquer outro tema muito violento foram imediatamente descartados. Um exemplo foi o longa Efeito Colateral (Collateral Damage/EUA, 2002). Dirigido por Andrew Davis e estrelado por Arnold Schwarzenegger Efeito Colateral não passava de um típico filme de aventura escapista e feijão com arroz, entretanto como sua trama girava em torno de ataques terroristas teve, à época, seu lançamento nos cinemas adiado indefinidamente. Outra amostra do verdadeiro tabu que se tornou mostrar qualquer ângulo, por mais ínfimo que fosse, que lembrasse a fatídica data foi o fato de a Sony Pictures ter retirado todos os trailers e posters de Homem-Aranha (Spider-Man/ EUA, 2002), cuja trama se passava inteiramente em Nova Iorque, de Sam Raimi que mostravam alguma imagem do WTC.
 Foram necessários onze anos para que Hollywood conseguisse digerir o pesadelo do 11 de setembro e depois regurgitá-lo de forma madura, corajosa e realista. E, claro, também foi necessário um cineasta, ou talvez uma cineasta..., com culhões suficientes para escancarar nas telas, sem nenhum tipo de concessão ou frescura, as consequências do maior ataque terrorista da história.
 A consequência dos ataques de 11 de setembro, lógico, foi a guerra.
 Em 20 de março de 2003, tropas militares dos Estados Unidos, Inglaterra e outros países formaram uma aliança chamada Coalizão e foram à desforra, por terra, água e ar, no Oriente Médio.
 Os nazis e Charlies foram substituídos por guerrilheiros árabes, os kamikazes por islâmicos fanáticos com bombas enfiadas até no cu que se jogavam despudoradamente sobre seus inimigos. Hitler e Mussolini "encarnaram" em Osama Bin Laden e Saddan Hussein respectivamente. As ideologias políticas diabólicas que agora ameaçam o Mundo Livre não se chamam mais Nazismo e Comunismo, mas Taliban e Al Qaeda e o Afeganistão e o Iraque se transformam na Europa da década de 1940 e no Sudeste Asiático dos anos 1960.
 Apesar de produções como Soldado Anônimo (Jarhead/EUA, 2005) de Sam Mendes, World Trade Center (EUA/2006) de Oliver Stone e Voo United 93 ( United 93/EUA, 2006) de Paul Greengrass já haverem abordado o inferno do 11 de setembro sob os mais diversos aspectos foi somente em 2009 que veio à luz o primeiro filme a mostrar sem dó nem piedade as entranhas do campo de batalha no Iraque.
 Guerra ao Terror (The Hurt Locker/EUA, 2009) de Kathryn Bigelow de cara desmistifica o conceito de guerra do vídeo-game pelo qual a intervenção gringa ao Oriente Médio ficou conhecida desde 1990 e que conferiu ao conflito uma aura quase de guerra fria. Provando que, mesmo imersa na mais alta tecnologia, uma guerra será sempre uma guerra com toda a dor, morte, genocídios, corpos despedaçados, medo e rios de sangue que sempre a caracterizaram. Pelo contrário, quanto mais dispõe de mecanismos high tech de destruição mais desumanizado e robotizado se torna o soldado em campo de batalha.
 A obra de Bigelow é um puta thriller de ação que retrata em minúcias o dia a dia insano de um grupo de soldados americanos em Bagdá especialistas em desarmar bombas. Os tais hurt lockers do título original.
 A produção se transformou em um clássico instantâneo da cinematografia bélica, venceu seis oscar, incluindo o primeiro prêmio de melhor diretor concedido à uma mulher na trajetória da Academia e foi comparado a filmes de guerra históricos como Apocalipse Now (EUA/1979) de Francis Ford Copolla e Platoon (EUA/1986) de Oliver Stone.
 Três anos após Guerra ao Terror, Bigelow e o seu roteirista Mark Boal mergulham novamente no hades iraquiano ao levarem para as telas o episódio mais importante, tenso e polêmico do envolvimento norte americana no Oriente Médio desde os anos 1980.
 A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty/ EUA, 2012) relata em pormenores perturbadores a obsessão doentia de um grupo de agentes da CIA em destrinchar o intrincado e mortífero labirinto de pistas falsas, contradições, burocracia e terroristas fanáticos que levará a Osama bin Laden, o todo poderoso da Al Qaeda, apontado como o principal responsável pelos ataques de 11 de setembro e, até a sua morte, o homem mais procurado e temido de todo o planeta Terra.
 Com um plot desta natureza era de se esperar uma verdadeira ode ao ufanismo de Tio Sam. Entretanto Katryn Bigelow despe A Hora Mais Escura de qualquer resquício de patriotada e pieguice entregando um filmaço de suspense e espionagem sombrio temperado com cenas de ação cruas e nervosas que descende diretamente dos desglamourizados, realistas e eletrizantes épicos de ação de Sam Peckimpah, William Friedkin e Walter Hill das décadas de 1970/1980.
 Narrado em um árido tom documental, o cerne de A Hora Mais Escura é o amadurecimento e perda da inocência de Maya (Jessica Chastian), uma agente novata da Agência Central de Inteligência norte americana que, a medida que vai se envolvendo de forma cada vez mais profunda na guerra ao terrorismo vai, gradativamente, perdendo a visão altruísta que tinha do Mundo.
 Um dos principais cérebros por trás da caçada a Bin Laden, Maya, que a princípio se sentia assustada e envergonhada ao presenciar uma "simples" sessão de tortura em um suspeito de terrorismo, vai sendo progressivamente possuída pelo truculento mundo de violência, fanatismo e armas pesadas que explode diariamente ao seu redor e, ao final dos vários anos de estressantes e meticulosas operações militares e de espionagem que levaram a execução do líder da Al Qaeda, a agente se torna tão fria, brutal e politicamente incorreta quanto seus colegas torturadores que, no início, a repugnavam.
 Personagem feminino atípico no Cinema Americano, a agente Maya possui muito mais características daqueles anti-heróis ríspidos e solitários protagonizados por Robert De Niro e Pacino em clássicos barra pesada como Táxi Driver, Serpico e Fogo Contra Fogo do que dos tradicionais papéis românticos e engraçadinhos interpretados por Júlia Roberts, Meg Ryan e Sandra Bullock.
 Aqui, novamente, a exemplo de Guerra ao Terror, a diretora Katryn Bigelow trabalha com a assustadora ideia de que a guerra e a carnificina são tão viciantes quanto uma droga pesada.
 A personagem de Chastian vê a sua rotina diária ser inteiramente consumida e preenchida pela adrenalina da guerra e da obsessão em trucidar Bin Laden. Maya não tem mais vida social, tampouco amigos e não consegue se afastar da zona de conflito mesmo sabendo que a qualquer instante ela possa ser feita em pedaços pela bomba de algum fanático.
 A guerra se tornou o seu crack, a sua heroína. Algo que devora seu corpo e espírito, mas que ao mesmo tempo é a única coisa que a faz seguir em frente em sua vida.
 A operação militar para assassinar Osama Bin Laden realizada pelo secretíssimo Seal Team Six, grupo de soldados de elite composto pelos melhores entre os melhores da Marinha dos EUA, é mostrada com uma riqueza de detalhes e realismo assombrosos, lembrando muito mais as táticas amedrontadoras do BOPE nas favelas do Rio em Tropa de Elite do que as epopeias bélicas esfuziantes de Braddock e Rambo. A sequência é filmada de forma ágil e seca, sem trilha sonora épica ou qualquer outro elemento que exalte coragem, heroísmo ou patriotismo.
 Pelo contrário, armados até os dentes e utilizando sofisticadíssimos óculos de visão noturna, que confere aos soldados uma aparência robótica fria e assustadora, os membros do Team Six vão eliminando qualquer homem ou mulher que surja em sua frente enquanto penetram no covil do líder da Al Qaeda mostrando que os soldados que executaram o líder máximo do terrorismo mundial não eram campeões da verdade e da justiça a serviço do mais fraco e oprimido, mas apenas assassinos profissionais competentíssimos e, provavelmente, muito bem pagos.
 A Hora Mais Escura, assim como os demais trabalhos de Bigelow, pertencem, em minha opinião, a um sub-gênero problemático do Cinema de Ação: os filmes de ação para adultos.
 Problemático não no sentido de qualidade, mas no de encontrar o seu público. Esmagados entre os filmes de ação convencionais, aqueles com roteiro repleto de furos gritantes e script que parece ter sido redigido por um débil mental, que tem como seu público alvo adolescentes que ainda acreditam que o Mundo é uma gigantesca Disneylândia e que medem o valor de um filme apenas pela quantidade de tomadas com CGI que são jogadas por minuto na tela e por dramas chatos repletos de lições de moral que os espectadores mais maduros parecem acharem que tem obrigação de assistirem para se sentirem mais intelectuais, os filmes de ação e aventura adultos são ignorados tanto pelo público mais jovem que torce o nariz para a complexidade do roteiro, se assusta com o realismo das cenas de violência e não tem paciência para um longa de aventura onde adrenalina, diálogos inteligentes e assuntos intrincados caminham lado a lado, quanto pelos cinéfilos adultos que, geralmente, pelo trailer e o cartaz os confundem com os filmes de ação tradicionais endereçados à platéia ten.
 Além de Katryn Bigelow os únicos outros cineastas de Hollywood em atividade hoje em dia com coragem para realizar longas de ação culhudos são Michael Mann (Fogo Contra Fogo, Miami Vice), Paul Greengrass ( Ultimato Bourne, Capitão Phillips) e o revolucionário Quentin Tarantino.
 Embora as produções destes cineastas sejam, quase sempre, elogiadas pela crítica dificilmente alguma de suas obras entrará para a lista das Maiores Bilheterias de Todos os Tempos. E resultam, como no caso dos subestimadíssimos filmes de Michael Mann, geralmente, em fracassos financeiros que são rapidamente esquecidos e se tornam obscuros cult movies.
 Quase sempre esse tipo de filme acaba encontrando seu nicho de admiradores entre os entusiastas de produções de horror heavy, filmes alternativos e de arte que estão mais acostumados a experimentalismos cinematográficos, temáticas radicais e cenas fortes.
 Um ponto que me deixou intrigado em relação a crítica "especializadas" sobre Guerra ao Terror e A Hora Mais Escura  foi o fato desta ter se surpreendido por uma obra tão visceral ter sido dirigida por uma mulher.
 Ora, só um cinéfilo pirralho que nasceu ontem ou alguém que desconheça completamente a trajetória de Katryn Bigelow para se abismar por toda a crueza e truculência de Zero Dark Thirty terem saído de uma mente feminina.
 Desde meados da década de 1980 que essa californiana, hoje uma sessentona enxuta que ainda tem muita adrenalina para queimar, vem mostrando ao mundo que filmes repletos de ação, fúria e músculos não são exclusividade de cineastas machões.
 Aqueles que, em termos cinematográficos, sempre associam o universo feminino a filmes românticos, dramáticos e "com mensagem", o chamado filme de mulherzinha, vai se assustar com toda a raiva, sangue e violência que explodem nas produções de Katryn Bigelow.
 Uma espécie de John Woo/ Peckimpah de saias, Bigelow começou a chamar a atenção de crítica e público com o terror ultra-cult  Quando Chega a Escuridão (Near Dark/EUA, 1987). Um dos mais realistas e perturbadores longas sobre vampiros já realizados. Ficando cabeça a cabeça com outros marcos sobre o assunto no cinema como Martin (EUA/1976) de George Romero, Sede de Sangue (Bakjwi/Thirst/ Coréia do Sul, 2009) de Chan-wook Park e Fome de Viver (The Hunger/EUA, 1983) de Tony Scott.
 Três anos após o sucesso de Near Dark a audaciosa cineasta se une ao feroz e polêmico Oliver Stone, que produz o novo petardo fílmico de Bigelow, e entrega outro filmaço: Jogo Perverso (Blue Steel/EUA, 1990). Um thriller policial feminista e brutal.
 Em 1991 a diretora conquista de vez os corações e mentes dos fãs do Cinema de Ação ao redor do Mundo com o arrebatador Caçadores de Emoções (Point Break/EUA, 1991). Produção policial sangrenta e estilizada mesclada com as mais alucinantes sequências de esportes radicais que se possa imaginar.
 Point Break marcou o início da relação profissional, e pessoal, de Katryn Bigelow com o todo poderoso James Cameron ( Titanic, Avatar).
 Cameron também iria produzir, e roteirizar, o próximo trabalho da cineasta: Estranhos Prazeres (Strange Days). Um cyberpunk sombrio e sinistro que antecipava as ideias de Matrix, mas com um teor bem mais adulto e efetivo que a obra dos Wachowski.
 Com o fracasso comercial de Estranhos Prazeres, algo inexplicável para uma produção tão empolgante, inteligente e tecnicamente impecável como Strange Days, Bigelow ficou no limbo por cinco anos retornando em 2000 com o drama hardcore O Peso Na Água (The Weight of Water/EUA, 2000), em que a cineasta transfere para os filmes dramáticos toda a força e ritmo pulsante dos longas de ação e aventura.
  Infelizmente, seguindo a sina de Strange Days, The Wight of Water também foi ignorado por crítica e público e logo foi esquecido nas prateleiras das vídeo locadoras.
 Dois anos depois a incansável diretora comanda a super produção K-19, The Widowmaker (EUA/2002). Uma aventura submarina a lá Caçada ao Outubro Vermelho ( The Hunt for Red October/EUA, 1990). Ambientado durante a guerra fria, K-19 trazia as marcas registradas de Bigelow: cenas de ação intensas e cruas e personagens verossímeis. O problema dessa vez foi que a estrela de Katryn Bigelow foi ofuscada pela presença do seu elenco famoso. Sendo que, até hoje, K-19 é muito mais lembrado como sendo "um filme" de Harrison Ford e Liam Neeson, protagonistas do longa, do que de Bigelow.
 Finalmente, em 2009, com um orçamento pequeno, portanto com muito mais liberdade criativa e menos pressão de produtores, Bigelow pode realizar outro clássico do mesmo nível de Point Break e Strange Days. Guerra ao Terror, juntamente com seu filme irmão A Hora Mais Escura, é uma primorosa obra-prima da violência, degradação e loucura que, finalmente, trouxe para as telas, sem nenhum tipo de complacência, a verdade e real dimensão sobre a intervenção norte americana no Oriente Médio. De quebra recolocou a carreira desta cineasta genial nos trilhos e, como eu citei anteriormente, deu um murro na cara do conhecido machismo hollywdiano arrancando da Academia o primeiro oscar de melhor diretora em quase oitenta anos de existência da premiação.
 Bem vinda de volta Katryn Bigelow!
 E viva as mulheres!