O thriller, o gênero que é composto pelas duas linhagens mais radicais e temidas do cinema e da literatura: o horror e o suspense, teve, entre seus fundadores na sétima arte, vários gênios que pariram os cânones da categoria.
Entre estes notáveis artesãos do medo podemos destacar os germânicos do expressionismo alemão: Robert Wiene ( O Gabinete do Doutor Caligari/Das Cabinet des Dr Caligari/1920), F. W. Murnau (Nosferatu, Uma Sinfonia do Horror/Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens/1922) e Fritz Lang (M, o Vampiro de Dusseldorf/(M)/1931), o francês Henri-Georges Clouzot (As Diabólicas/Les Diabolique/1955), entre outros.
Entretanto, entre os inventores do thriller aquele que mais inovou o gênero deste, tanto em aspectos temáticos quanto técnicos, foi o inglês Alfred Hitchcock (1899-1980).
Os cineastas citados acima, como já mencionado, construíram os alicerces atemporais e inquebráveis das produções de suspense e horror. Mas foi Hitchcock quem ergueu as paredes. Foi ele que a golpes dos mais inacreditáveis e perturbadores movimentos de câmera lapidou o formato final do thriller. Que criou a estética e imprimiu identidade a esse estilo maldito de cinema. Foi o velho gorducho quem ensinou aos cineastas do gênero que vieram após ele onde deveriam enfiar o zomm da câmera para que uma cena de assassinato ficasse a mais doentia e insuportável possível, como se deve montar de forma perfeita uma longa sequência de suspense para que o espectador veja a morte não apenas nos calcanhares dos personagens dos filmes, mas que a sinta escondida dentro de sua própria sombra depois que a sessão acabou e ele está passando por um beco escuro a caminho de sua casa.
Foi Hitch, afinal, que ensinou aos cineastas do mundo todo a transformarem o alívio da catarse do espectador em um exercício de exorcismo provocado por injeções de adrenalina pura.
Mas Hitchcock fez ainda mais. Assim como Stanley Kubrick e George Lucas, com 2001 e Star Wars, respectivamente, não inventaram a ficção científica nas telas, entretanto estabeleceram novos padrões para o gênero que são seguidos até hoje em produções sci fi, Blackmail (1929), a primeira obra de Hitch, embora não tenha propriamente parido o thriller, mudou para sempre a forma como a violência, o medo e o choque visual eram construídos no cinema e criou um novo marco zero de uma futura escola e linhagem de diretores e filmes ligados ao horror e ao suspense.
E a etnia hitchcockiana deu origem a uma grande família de produções maníacas em que a cada nova geração um renovado ciclo de filmes e cineastas forçavam os limites do thriller a avançarem em direção a horizontes cada vez mais amplos em termos de ousadia técnica, truculência, sangue, tripas e depravação.
Uma dessas primeiras gerações de thrillers pós-Hitchcock, foram os krimis. Produzidos na Alemanha no final da década de 1950, os krimis sempre giravam em torno de homicídios e assassinos. A Partir de 1969, com o intuito de baixar os custos de produção, os realizadores alemães dos kriminalfilm se uniram aos estúdios italianos.
A união dessas películas policiais alemãs com o sempre arrojado cinema italiano, que por essa época já possuía várias pérolas do Cinema Fantástico como o visionário Planeta Dos Vampiros (Terrore Nello Spazio/1965), de Mário Bava, resultou em um coito sadomasoquista que deu à luz a uma das mais insanas e geniais descendências de thrillers: o giallo.
Embora alguns experts em giallo, como o autor do texto de onde tirei as informações dos dois últimos parágrafos acima, afirmem que os realizadores dos krimis tenham se associado ao Cinema Italiano em 1969, outros pesquisadores do assunto endossam que o amálgama entre esses thrillers alemães com produtores e diretores italianos tenha ocorrido ainda antes através do krimi alemão, mas que acabou sendo realizado na Itália, Olhos Diabólicos (La Ragazza Che Sapeva Troppo), de 1963. Esse filme em P&B dirigido por Mario Bava pode ser considerado um proto-giallo, pois apesar de esteticamente não se enquadrar no gênero, já possuía características dos giallos em termos de conteúdo. Já a primeira produção a assumir aspectos, tanto em termos de roteiro, quanto de visual, do estilo foi o curta metragem O Telefone (Il Telefono) primeiro capítulo do longa metragem episódico, As Três Máscaras do Terror ( I Tre Volti Della Paura). Filme italiano também lançado em 1963 e igualmente comandado por Mario Bava. O Telefone, ao contrário de Olhos Diabólicos, já possuía todos os cânones do giallo: assassinos psicopatas implacáveis, facas tão afiadas que chegam a brilhar, sensualidade feminina e fotografia lisérgica. Já em termos de longa metragem, o primeiro giallo em sua forma final com todos os seus símbolos, também dirigido pelo onipresente Bava, ocorreu um ano depois com Seis Mulheres Para o Assassino (Sei Donne per I'Assassino/Itália, 1964).
O curioso quanto ao giallo é que em seu país de origem o termo é utilizado para classificar qualquer espécie de filme de suspense e não apenas as produções que possuem as características do gênero, como assassinos com luvas negras, mulheres semi nuas sendo destroçadas, etc. Essa expressão usada para designar esse tipo de produção em específico é utilizada por críticos e fãs estrangeiros e não italianos.
Enfim, desde suas raízes na década de 1960 vários dos mais importantes diretores italianos ligados ao Cinema Fantástico e ao thriller flertaram com o giallo: Mario Bava, Umberto Lenzi, Lucio Fulcie, entre outros.
Entretanto, houve um destes cineastas que elevou o giallo a condição de obra de arte e também foi aquele que mais aproximou o gênero da perfeição técnica hitchcockiana: Dario Argento.
Embora tenha dirigido algumas produções voltadas para o horror sobrenatural foi no giallo que Argento, nascido em Roma em 1940 e hoje com 75 anos de idade, se notabilizou e construiu sua fama a ponto de seu nome ser, praticamente, sinônimo do gênero.
De todos os cineastas "filhos" de Alfred Hitchcock, Dario Argento, ao lado do norte americano Brian de Palma, é o mais fiel discípulo do mestre.
E é a estréia de Argento: O Pássaro Das Plumas De Cristal ( L'uccello Dalle Piume Di Cristallo/ Itália, 1970), longa que abre a Trilogia dos Animais que se completa com O Gato de Nove Caudas (Il Gatto a Nove Code/Itália,1971) e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza (4Mosche Di Velluto Grigio/Itália, 1971) todos dirigidos por Dario Argento, uma obra incrível e visionária, o principal foco desta postagem.
Já em seus primeiros momentos de exibição, O Pássaro Das Plumas de Cristal demonstra brilhantemente porque é um legítimo herdeiro da obra hitchcockiana: é primoroso dos pés à cabeça do ponto de vista técnico.
O longa inicia com uma estilosa sequência que nos mostra, através da objetiva de uma câmera fotográfica, as imagens de uma bela mulher. Ouve-se o clique da foto sendo batida, a imagem da mulher congela. A continuidade da sessão de fotos é intercalada por outra que expõem as mãos de alguém trabalhando na revelação das fotos. Tudo embalado por uma trilha sonora sincronicamente sensual e misteriosa.
Um corte abrupto deixa a tela inteiramente negra, ao fundo, ouvimos um grito de pavor, dor, agonia de uma mulher.
Em poucos minutos, e sem um único diálogo ou monólogo sequer, fomos testemunha de todo o modus operandi de um assassino em série. Brilhante, cinematograficamente falando, para dizer o mínimo.
Essa sequência inicial de O Pássaro das Plumas de Cristal, antecipa todo o restante da película e entrega a sádica intenção de Argento: colocar o espectador "dentro" da pele, tanto do predador, quanto de suas presas. Para que sintamos tanto a dor das vítimas, quanto o prazer doentio do assassino.
Após esse prólogo que faz questão de nos mostrar de forma concomitantemente elegante e abrupta a que o filme veio, somos apresentados a trama em si: o escritor norte-americano Sam Dalmas (Tony Musante), em companhia de sua namorada Júlia (Suzy Kendall), viaja para a Itália e lá é testemunha de uma violenta e misteriosa tentativa de assassinato.
A partir daí, o roteiro de O Pássaro das Plumas de Cristal vai gradativamente, a medida em que Sam vai ficando tão obsessivo em sua caça pelo maníaco quanto este por suas vítimas, se tornando cada vez mais labiríntico, intrincado e patológico. Um angustiante jogo de gato e rato repleto de reviravoltas, pistas falsas e homicídios sinistros.
Uma das principais inovações, ao meu ver, da estréia de Argento é a sua fotografia. Antecipando a iluminação que Jan De Bont imprimiria ao thriller erótico Instinto Selvagem, de Paul Verhoeven, o lendário iluminador romano Vittório Storaro (Apocalipse Now, O Último Imperador), indicado quatro vezes ao oscar de melhor fotografia e vencedor na categoria por três vezes, inunda as cenas deste histórico giallo com uma fotografia límpida e fulgurante. Assim, da mesma forma que De Bont e Verhoeven fariam mais de vinte anos depois com o quase hardcore, Basic Instinct, Argento e Storaro, surpreendentemente, usam imagens claras e reluzentes para contarem uma história sombria e deprimente sobre loucura e assassinato.
Entretanto, ao contrário do que muitos podem imaginar, a escolha deste tipo de fotografia não compromete o clima de mistério sangrento de O Pássaro das Plumas de Cristal. Pelo contrário, ao optar por inserir os crimes do psicopata no interior de tomadas repletas de luz só tornam as cenas de violência ainda mais explícitas e intensas. Um exemplo disso é a sequência em que Sam observa impotente ao, quase, assassinato de uma mulher, a primeira vítima do psicopata. Filmada em um cenário amplo, bem iluminado e em tomadas abertas, ao contrário dos usuais ambientes tétricos e lúgubres típicos de cenas de crimes em filmes de suspense. Ao jogar o ato de perversidade na cara do espectador da forma mais cristalina possível, Dario Argento e seus colaboradores comprovam seus intentos já explicitados na cena de abertura: nos transformarem em voyeurs sadomasoquistas.
Mas isso não quer dizer que essa opção por imagens claras seja uma constante em O Pássaro das Plumas de Cristal, ou que Argento e Storaro não saibam trabalhar com estéticas mais brumosas e fúnebres.
Embora a maioria das tomadas diurnas tenham sido fotografadas de forma perturbadoramente visível, a única exceção a essa regra foi construída de maneira não menos aterradora. Na sequência em que o escritor é perseguido nas ruas pelo matador em plena luz do dia uma névoa tão densa quanto aquela que ocultava as míticas eviscerações de Jack, o Estripador tomam conta do ambiente e envolvem caçador e caça em uma atmosfera quase surreal de conto de fadas macabro e mistério sobrenatural. Como se o assassino vomitasse no mundo real as mórbidas e distorcidas brumas que preenchem sua psiquê. Expressionismo/noir puro!
E se na cenas "abertas" e claras, Argento e Storaro se valem de toda a transparência do ambiente para explicitarem a brutalidade e frieza dos atos de violência, nas sequências noturnas e filmadas em espaços reduzidos diretor e iluminador, igualmente, se valem das estéticas desses locais para fazerem os espectadores suarem frio.
Se os crimes vistos por lentes cinematográficas limpas e claras se assemelham a verossimilhança repulsiva dos assassínios mostrados em telejornais e programas de tv sensacionalistas, as tomadas noturnas e escuras do filme, por meio das trevas pesadas e claustrofóbicas que escondem o assassino, fazem a nossa imaginação correr solta. Se antes, as cenas nos chocavam e assustavam por deixarem bem claro que aqueles atos animalescos eram cometidos, provavelmente, por um ser humano, agora, o negrume que envolve os personagens, e vítimas, dão a sensação de estarem, mesmo quando em espaços abertos, emparedados por uma caliginosidade sufocante. Os abismos de escuridão que engolem as, outrora, iluminadas imagens do mundo de O Pássaro das Plumas de Cristal também mudam nossa percepção sobre o vilão. Agora, aquilo que antes nos fazia crer de que os assassinatos eram cometidos por um indivíduo comum, a luz, desapareceu e a noite e as sombras sempre fazem que o que já era ruim, fique muito pior... Súbito, graças as trevas que envolvem tudo, o criminoso pode vir a ser, de uma hora, para outra, um lobisomem, um vampiro, um fantasma, o próprio Satanás! Por isso que as sequências noturnas do filme são as que mais, embora nunca ocorra nenhum evento paranormal, conferem a este thriller uma aura de horror sobrenatural. Isso fica evidente na tensa sequência em em que Sam é perseguido à noite pelo, suposto, serial killer em um estacionamento deserto. O horror da cena é ainda mais amplificado pelos cortes rápidos da edição, congelamentos de imagens e por uma surreal trilha sonora que mistura um jazz sinistro com gemido femininos, que ora parecem de prazer, ora de agonia, ora de ambos. Tudo isso contribui para que tenhamos a incômoda sensação de que a qualquer segundo o perseguidor de Sam poderá trocar seu revólver por garras afiadas e caninos licantrópicos que irão brotar de suas mãos e gengivas.
Outro inesquecível exemplo de estupenda fotografia de O Pássaro das Plumas de Cristal, é quando, em uma de suas incessantes perseguições/fugas ao/do assassino enlouquecido, Sam para na entrada de um corredor escuro. Nada demais para um longa de terror e suspense, no entanto, nas mãos de dois mestres do cinema como Argento e Storaro esta típico e usual recurso dos thrillers para provocar sustos vulgares aos espectadores se transforma em pura arte digna dos delirantes trabalhos surreais de Salvador Dalí. Após enquadrar o apavorado escritor na porta do túnel, a câmera de Argento vai se afastando do ator e adentrando cada vez mais no interior da galeria subterrânea até que toda a tela se torne uma parede de de trevas absoluta enquanto que, paralelamente, Sam se transforme em uma pequena silhueta emoldurada por um insignificante retângulo de luz.
Trata-se de uma sequência realizado de forma tão singularmente estilizada que temos a impressão de estarmos assistindo não mais a um longa live-action, mas a um desenho animado. A sensação de profundidade impregnada a esta cena é espantosa. Temos a impressão de que nós mesmos, espectadores, estamos adentrando em um sinistro corredor de pura escuridão e mistério. Esta sequência, da mesma forma como a do ermo estacionamento, nos passa uma sensação de que o sobrenatural está prestes a dominar o longa. As trevas que se agigantem cada vez mais na tela, em detrimento da luz que emoldura a figura de Sam, parecem nos dizerem que aquele é muito mais que um simples corredor, é um portal para o Inferno, ou para o interior da mente distorcida do psicopata, habitado por monstros dantescos cuja maldade está muito além de nossa imaginação. Aqui, Argento quer nos mostrar a pequenez da sanidade luminosa de Sam em comparação com a escuridão titânica da alma enlouquecida do assassino.
Outra colaboração decisiva, além de Storaro, para a qualidade de L'uccello Dalle Piume Di Cristallo foi a do, também italiano, prolífico Ennio Morricone. Morricone construiu seu lugar de honra na Sétima Arte ao compor uma infinidade de inesquecíveis trilhas sonoras épicas e eletrizantes para vários clássicos dos mais variados gêneros. das memoráveis soundtracks dos spaghetti westerns de Sérgio Leone, passando pelos tétricos sintetizadores da melhor fusão thriller/ficção científica de todos os tempos: O Enigma de Outro Mundo (The Thing/EUA, 1982), de John Carpenter, até a empolgante música-tema de Os Intocáveis ( The Untouchables/EUA, 1987), de Brian de Palma, entre muitos outros sucessos.
Para O Pássaro das Plumas de Cristal compôs uma trilha complexa que vai da música clássica ao jazz misturados a discretos, mas marcantes corais femininos que transmitem um angustiante clima ambíguo de pavor e sensualidade. A eclética mistura de sensações que o trabalho de Morriconi nesta obra de Argento nos transmite é impressionante e, a exemplo de Riz Ortolani em Cannibal Holocaust, nos desconcerta nos momentos em que usa composições melodiosas e românticas para servirem de prenúncio para assassinatos violentos. Cinicamente genial!
O conterrâneo de Morricone, Pino Donaggio, também utiliza, em alguns momentos, esse mesmo recurso de trilha sonora sexy e romântica para um filme sombrio e sangrento em Vestida Para Matar (Dressed to Kill/EUA, 1980), dirigido por outro esteta do suspense/horror, o norte americano Brian de Palma.
Aliás, é notável a semelhança entre as soundtracks de O Pássaro das Plumas de Cristal e Vestida Para Matar. E as analogias entre as duas obras vão além da trilha sonora. A claustrofóbica sequência do homicídio de uma mulher dentro de um elevador no filme de Argento foi, dez anos depois, copiada quase na íntegra por De Palma em uma cena-chave de Dressed To Kill. A maioria dos críticos sempre faz questão de frisar a grande influência da obra de Alfred Hitchcock nos estilo de Brian De Palma, entretanto poucos são aqueles que percebem a gigantesca sombra de Dario Argento, que, por sua vez, também paga um alto tributo aos clássicos de Hitchcock, sobre os filmes do célebre diretor de Carrie, A Estranha (Carrie/EUA, 1976) e Dublê de Corpo (Body Double/EUA, 1984). Alguns especialistas em Cinema Fantástico Italiano até chegam a afirmar que Vestida Para Matar nada mais é do que um giallo feito em Hollywood.
Embalando tudo isso, temos, em O Pássaro Das Plumas De Cristal um clima geral de investigação fria e racional ao melhor estilo C.S.I., com Sam e a polícia italiana caçando e analisando as pistas deixadas pelo serial killer através de métodos puramente científicos por meio dos mais sofisticados equipamentos de investigação forense.
Mesmo com o óbvio anacronismo do hardware da polícia científica mostrado no longa suas parafernálias high tech, mostradas em detalhes, ainda impressionam mesmo nos dias de hoje. Isso, associado a fotografia limpa e ao sensacional contraste entre luz e sombra, faz com que este filme de mais de quarenta anos de idade possua uma estética de "produção atual". Fico imaginando a maravilha visual que não deva ser assisti-lo em formato blue-ray.
E esse visionarismo elegante continuou sendo uma característica de quase toda a obra posterior de Dario Argento que com seus inacreditáveis ângulos de câmera complicados e estilosos, tomadas subjetivas múltiplas e surreais, efeitos especiais que nos deixam com o coração na boca entre muitos outros exemplos de rebuscamento técnico, que influenciaram produções-marco dos efeitos visuais, como, True Lies (EUA, 1994), de James Cameron e The Matrix (EUA,1999), dos Wachowski Brothers, torna Argento, ao lado de Brian De Palma e, mais recentemente, David Fincher, uma legítima cria de Alfred Hitchcock.
Infelizmente, os thrillers estilosos e sombrios andam meio em baixa nos últimos anos. Com exceção do já citado David Fincher, os cineastas da atualidade parecem não terem mais culhões para realizarem produções de suspense com tramas intrincadas, violência realista e efeitos especiais assustadores. Aquele tipo de filme feito não apenas para quem vê os thrillers, e o cinema em geral, como uma mera diversão, mas também para os cinéfilos, estudiosos e pesquisadores da Sétima Arte. Filmes da grife Thriller Hitchcockiano, que encontrava em Dario Argento um de seus mais ilustres, e perturbadores, representantes.
Colaborou: Matheus Ferraz e Paulo Blob Teixeira.
Entre estes notáveis artesãos do medo podemos destacar os germânicos do expressionismo alemão: Robert Wiene ( O Gabinete do Doutor Caligari/Das Cabinet des Dr Caligari/1920), F. W. Murnau (Nosferatu, Uma Sinfonia do Horror/Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens/1922) e Fritz Lang (M, o Vampiro de Dusseldorf/(M)/1931), o francês Henri-Georges Clouzot (As Diabólicas/Les Diabolique/1955), entre outros.
Entretanto, entre os inventores do thriller aquele que mais inovou o gênero deste, tanto em aspectos temáticos quanto técnicos, foi o inglês Alfred Hitchcock (1899-1980).
Os cineastas citados acima, como já mencionado, construíram os alicerces atemporais e inquebráveis das produções de suspense e horror. Mas foi Hitchcock quem ergueu as paredes. Foi ele que a golpes dos mais inacreditáveis e perturbadores movimentos de câmera lapidou o formato final do thriller. Que criou a estética e imprimiu identidade a esse estilo maldito de cinema. Foi o velho gorducho quem ensinou aos cineastas do gênero que vieram após ele onde deveriam enfiar o zomm da câmera para que uma cena de assassinato ficasse a mais doentia e insuportável possível, como se deve montar de forma perfeita uma longa sequência de suspense para que o espectador veja a morte não apenas nos calcanhares dos personagens dos filmes, mas que a sinta escondida dentro de sua própria sombra depois que a sessão acabou e ele está passando por um beco escuro a caminho de sua casa.
Foi Hitch, afinal, que ensinou aos cineastas do mundo todo a transformarem o alívio da catarse do espectador em um exercício de exorcismo provocado por injeções de adrenalina pura.
Mas Hitchcock fez ainda mais. Assim como Stanley Kubrick e George Lucas, com 2001 e Star Wars, respectivamente, não inventaram a ficção científica nas telas, entretanto estabeleceram novos padrões para o gênero que são seguidos até hoje em produções sci fi, Blackmail (1929), a primeira obra de Hitch, embora não tenha propriamente parido o thriller, mudou para sempre a forma como a violência, o medo e o choque visual eram construídos no cinema e criou um novo marco zero de uma futura escola e linhagem de diretores e filmes ligados ao horror e ao suspense.
E a etnia hitchcockiana deu origem a uma grande família de produções maníacas em que a cada nova geração um renovado ciclo de filmes e cineastas forçavam os limites do thriller a avançarem em direção a horizontes cada vez mais amplos em termos de ousadia técnica, truculência, sangue, tripas e depravação.
Uma dessas primeiras gerações de thrillers pós-Hitchcock, foram os krimis. Produzidos na Alemanha no final da década de 1950, os krimis sempre giravam em torno de homicídios e assassinos. A Partir de 1969, com o intuito de baixar os custos de produção, os realizadores alemães dos kriminalfilm se uniram aos estúdios italianos.
A união dessas películas policiais alemãs com o sempre arrojado cinema italiano, que por essa época já possuía várias pérolas do Cinema Fantástico como o visionário Planeta Dos Vampiros (Terrore Nello Spazio/1965), de Mário Bava, resultou em um coito sadomasoquista que deu à luz a uma das mais insanas e geniais descendências de thrillers: o giallo.
Embora alguns experts em giallo, como o autor do texto de onde tirei as informações dos dois últimos parágrafos acima, afirmem que os realizadores dos krimis tenham se associado ao Cinema Italiano em 1969, outros pesquisadores do assunto endossam que o amálgama entre esses thrillers alemães com produtores e diretores italianos tenha ocorrido ainda antes através do krimi alemão, mas que acabou sendo realizado na Itália, Olhos Diabólicos (La Ragazza Che Sapeva Troppo), de 1963. Esse filme em P&B dirigido por Mario Bava pode ser considerado um proto-giallo, pois apesar de esteticamente não se enquadrar no gênero, já possuía características dos giallos em termos de conteúdo. Já a primeira produção a assumir aspectos, tanto em termos de roteiro, quanto de visual, do estilo foi o curta metragem O Telefone (Il Telefono) primeiro capítulo do longa metragem episódico, As Três Máscaras do Terror ( I Tre Volti Della Paura). Filme italiano também lançado em 1963 e igualmente comandado por Mario Bava. O Telefone, ao contrário de Olhos Diabólicos, já possuía todos os cânones do giallo: assassinos psicopatas implacáveis, facas tão afiadas que chegam a brilhar, sensualidade feminina e fotografia lisérgica. Já em termos de longa metragem, o primeiro giallo em sua forma final com todos os seus símbolos, também dirigido pelo onipresente Bava, ocorreu um ano depois com Seis Mulheres Para o Assassino (Sei Donne per I'Assassino/Itália, 1964).
O curioso quanto ao giallo é que em seu país de origem o termo é utilizado para classificar qualquer espécie de filme de suspense e não apenas as produções que possuem as características do gênero, como assassinos com luvas negras, mulheres semi nuas sendo destroçadas, etc. Essa expressão usada para designar esse tipo de produção em específico é utilizada por críticos e fãs estrangeiros e não italianos.
Enfim, desde suas raízes na década de 1960 vários dos mais importantes diretores italianos ligados ao Cinema Fantástico e ao thriller flertaram com o giallo: Mario Bava, Umberto Lenzi, Lucio Fulcie, entre outros.
Entretanto, houve um destes cineastas que elevou o giallo a condição de obra de arte e também foi aquele que mais aproximou o gênero da perfeição técnica hitchcockiana: Dario Argento.
Embora tenha dirigido algumas produções voltadas para o horror sobrenatural foi no giallo que Argento, nascido em Roma em 1940 e hoje com 75 anos de idade, se notabilizou e construiu sua fama a ponto de seu nome ser, praticamente, sinônimo do gênero.
De todos os cineastas "filhos" de Alfred Hitchcock, Dario Argento, ao lado do norte americano Brian de Palma, é o mais fiel discípulo do mestre.
E é a estréia de Argento: O Pássaro Das Plumas De Cristal ( L'uccello Dalle Piume Di Cristallo/ Itália, 1970), longa que abre a Trilogia dos Animais que se completa com O Gato de Nove Caudas (Il Gatto a Nove Code/Itália,1971) e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza (4Mosche Di Velluto Grigio/Itália, 1971) todos dirigidos por Dario Argento, uma obra incrível e visionária, o principal foco desta postagem.
Já em seus primeiros momentos de exibição, O Pássaro Das Plumas de Cristal demonstra brilhantemente porque é um legítimo herdeiro da obra hitchcockiana: é primoroso dos pés à cabeça do ponto de vista técnico.
O longa inicia com uma estilosa sequência que nos mostra, através da objetiva de uma câmera fotográfica, as imagens de uma bela mulher. Ouve-se o clique da foto sendo batida, a imagem da mulher congela. A continuidade da sessão de fotos é intercalada por outra que expõem as mãos de alguém trabalhando na revelação das fotos. Tudo embalado por uma trilha sonora sincronicamente sensual e misteriosa.
Um corte abrupto deixa a tela inteiramente negra, ao fundo, ouvimos um grito de pavor, dor, agonia de uma mulher.
Em poucos minutos, e sem um único diálogo ou monólogo sequer, fomos testemunha de todo o modus operandi de um assassino em série. Brilhante, cinematograficamente falando, para dizer o mínimo.
Essa sequência inicial de O Pássaro das Plumas de Cristal, antecipa todo o restante da película e entrega a sádica intenção de Argento: colocar o espectador "dentro" da pele, tanto do predador, quanto de suas presas. Para que sintamos tanto a dor das vítimas, quanto o prazer doentio do assassino.
Após esse prólogo que faz questão de nos mostrar de forma concomitantemente elegante e abrupta a que o filme veio, somos apresentados a trama em si: o escritor norte-americano Sam Dalmas (Tony Musante), em companhia de sua namorada Júlia (Suzy Kendall), viaja para a Itália e lá é testemunha de uma violenta e misteriosa tentativa de assassinato.
A partir daí, o roteiro de O Pássaro das Plumas de Cristal vai gradativamente, a medida em que Sam vai ficando tão obsessivo em sua caça pelo maníaco quanto este por suas vítimas, se tornando cada vez mais labiríntico, intrincado e patológico. Um angustiante jogo de gato e rato repleto de reviravoltas, pistas falsas e homicídios sinistros.
Uma das principais inovações, ao meu ver, da estréia de Argento é a sua fotografia. Antecipando a iluminação que Jan De Bont imprimiria ao thriller erótico Instinto Selvagem, de Paul Verhoeven, o lendário iluminador romano Vittório Storaro (Apocalipse Now, O Último Imperador), indicado quatro vezes ao oscar de melhor fotografia e vencedor na categoria por três vezes, inunda as cenas deste histórico giallo com uma fotografia límpida e fulgurante. Assim, da mesma forma que De Bont e Verhoeven fariam mais de vinte anos depois com o quase hardcore, Basic Instinct, Argento e Storaro, surpreendentemente, usam imagens claras e reluzentes para contarem uma história sombria e deprimente sobre loucura e assassinato.
Entretanto, ao contrário do que muitos podem imaginar, a escolha deste tipo de fotografia não compromete o clima de mistério sangrento de O Pássaro das Plumas de Cristal. Pelo contrário, ao optar por inserir os crimes do psicopata no interior de tomadas repletas de luz só tornam as cenas de violência ainda mais explícitas e intensas. Um exemplo disso é a sequência em que Sam observa impotente ao, quase, assassinato de uma mulher, a primeira vítima do psicopata. Filmada em um cenário amplo, bem iluminado e em tomadas abertas, ao contrário dos usuais ambientes tétricos e lúgubres típicos de cenas de crimes em filmes de suspense. Ao jogar o ato de perversidade na cara do espectador da forma mais cristalina possível, Dario Argento e seus colaboradores comprovam seus intentos já explicitados na cena de abertura: nos transformarem em voyeurs sadomasoquistas.
Mas isso não quer dizer que essa opção por imagens claras seja uma constante em O Pássaro das Plumas de Cristal, ou que Argento e Storaro não saibam trabalhar com estéticas mais brumosas e fúnebres.
Embora a maioria das tomadas diurnas tenham sido fotografadas de forma perturbadoramente visível, a única exceção a essa regra foi construída de maneira não menos aterradora. Na sequência em que o escritor é perseguido nas ruas pelo matador em plena luz do dia uma névoa tão densa quanto aquela que ocultava as míticas eviscerações de Jack, o Estripador tomam conta do ambiente e envolvem caçador e caça em uma atmosfera quase surreal de conto de fadas macabro e mistério sobrenatural. Como se o assassino vomitasse no mundo real as mórbidas e distorcidas brumas que preenchem sua psiquê. Expressionismo/noir puro!
E se na cenas "abertas" e claras, Argento e Storaro se valem de toda a transparência do ambiente para explicitarem a brutalidade e frieza dos atos de violência, nas sequências noturnas e filmadas em espaços reduzidos diretor e iluminador, igualmente, se valem das estéticas desses locais para fazerem os espectadores suarem frio.
Se os crimes vistos por lentes cinematográficas limpas e claras se assemelham a verossimilhança repulsiva dos assassínios mostrados em telejornais e programas de tv sensacionalistas, as tomadas noturnas e escuras do filme, por meio das trevas pesadas e claustrofóbicas que escondem o assassino, fazem a nossa imaginação correr solta. Se antes, as cenas nos chocavam e assustavam por deixarem bem claro que aqueles atos animalescos eram cometidos, provavelmente, por um ser humano, agora, o negrume que envolve os personagens, e vítimas, dão a sensação de estarem, mesmo quando em espaços abertos, emparedados por uma caliginosidade sufocante. Os abismos de escuridão que engolem as, outrora, iluminadas imagens do mundo de O Pássaro das Plumas de Cristal também mudam nossa percepção sobre o vilão. Agora, aquilo que antes nos fazia crer de que os assassinatos eram cometidos por um indivíduo comum, a luz, desapareceu e a noite e as sombras sempre fazem que o que já era ruim, fique muito pior... Súbito, graças as trevas que envolvem tudo, o criminoso pode vir a ser, de uma hora, para outra, um lobisomem, um vampiro, um fantasma, o próprio Satanás! Por isso que as sequências noturnas do filme são as que mais, embora nunca ocorra nenhum evento paranormal, conferem a este thriller uma aura de horror sobrenatural. Isso fica evidente na tensa sequência em em que Sam é perseguido à noite pelo, suposto, serial killer em um estacionamento deserto. O horror da cena é ainda mais amplificado pelos cortes rápidos da edição, congelamentos de imagens e por uma surreal trilha sonora que mistura um jazz sinistro com gemido femininos, que ora parecem de prazer, ora de agonia, ora de ambos. Tudo isso contribui para que tenhamos a incômoda sensação de que a qualquer segundo o perseguidor de Sam poderá trocar seu revólver por garras afiadas e caninos licantrópicos que irão brotar de suas mãos e gengivas.
Outro inesquecível exemplo de estupenda fotografia de O Pássaro das Plumas de Cristal, é quando, em uma de suas incessantes perseguições/fugas ao/do assassino enlouquecido, Sam para na entrada de um corredor escuro. Nada demais para um longa de terror e suspense, no entanto, nas mãos de dois mestres do cinema como Argento e Storaro esta típico e usual recurso dos thrillers para provocar sustos vulgares aos espectadores se transforma em pura arte digna dos delirantes trabalhos surreais de Salvador Dalí. Após enquadrar o apavorado escritor na porta do túnel, a câmera de Argento vai se afastando do ator e adentrando cada vez mais no interior da galeria subterrânea até que toda a tela se torne uma parede de de trevas absoluta enquanto que, paralelamente, Sam se transforme em uma pequena silhueta emoldurada por um insignificante retângulo de luz.
Trata-se de uma sequência realizado de forma tão singularmente estilizada que temos a impressão de estarmos assistindo não mais a um longa live-action, mas a um desenho animado. A sensação de profundidade impregnada a esta cena é espantosa. Temos a impressão de que nós mesmos, espectadores, estamos adentrando em um sinistro corredor de pura escuridão e mistério. Esta sequência, da mesma forma como a do ermo estacionamento, nos passa uma sensação de que o sobrenatural está prestes a dominar o longa. As trevas que se agigantem cada vez mais na tela, em detrimento da luz que emoldura a figura de Sam, parecem nos dizerem que aquele é muito mais que um simples corredor, é um portal para o Inferno, ou para o interior da mente distorcida do psicopata, habitado por monstros dantescos cuja maldade está muito além de nossa imaginação. Aqui, Argento quer nos mostrar a pequenez da sanidade luminosa de Sam em comparação com a escuridão titânica da alma enlouquecida do assassino.
Outra colaboração decisiva, além de Storaro, para a qualidade de L'uccello Dalle Piume Di Cristallo foi a do, também italiano, prolífico Ennio Morricone. Morricone construiu seu lugar de honra na Sétima Arte ao compor uma infinidade de inesquecíveis trilhas sonoras épicas e eletrizantes para vários clássicos dos mais variados gêneros. das memoráveis soundtracks dos spaghetti westerns de Sérgio Leone, passando pelos tétricos sintetizadores da melhor fusão thriller/ficção científica de todos os tempos: O Enigma de Outro Mundo (The Thing/EUA, 1982), de John Carpenter, até a empolgante música-tema de Os Intocáveis ( The Untouchables/EUA, 1987), de Brian de Palma, entre muitos outros sucessos.
Para O Pássaro das Plumas de Cristal compôs uma trilha complexa que vai da música clássica ao jazz misturados a discretos, mas marcantes corais femininos que transmitem um angustiante clima ambíguo de pavor e sensualidade. A eclética mistura de sensações que o trabalho de Morriconi nesta obra de Argento nos transmite é impressionante e, a exemplo de Riz Ortolani em Cannibal Holocaust, nos desconcerta nos momentos em que usa composições melodiosas e românticas para servirem de prenúncio para assassinatos violentos. Cinicamente genial!
O conterrâneo de Morricone, Pino Donaggio, também utiliza, em alguns momentos, esse mesmo recurso de trilha sonora sexy e romântica para um filme sombrio e sangrento em Vestida Para Matar (Dressed to Kill/EUA, 1980), dirigido por outro esteta do suspense/horror, o norte americano Brian de Palma.
Aliás, é notável a semelhança entre as soundtracks de O Pássaro das Plumas de Cristal e Vestida Para Matar. E as analogias entre as duas obras vão além da trilha sonora. A claustrofóbica sequência do homicídio de uma mulher dentro de um elevador no filme de Argento foi, dez anos depois, copiada quase na íntegra por De Palma em uma cena-chave de Dressed To Kill. A maioria dos críticos sempre faz questão de frisar a grande influência da obra de Alfred Hitchcock nos estilo de Brian De Palma, entretanto poucos são aqueles que percebem a gigantesca sombra de Dario Argento, que, por sua vez, também paga um alto tributo aos clássicos de Hitchcock, sobre os filmes do célebre diretor de Carrie, A Estranha (Carrie/EUA, 1976) e Dublê de Corpo (Body Double/EUA, 1984). Alguns especialistas em Cinema Fantástico Italiano até chegam a afirmar que Vestida Para Matar nada mais é do que um giallo feito em Hollywood.
Embalando tudo isso, temos, em O Pássaro Das Plumas De Cristal um clima geral de investigação fria e racional ao melhor estilo C.S.I., com Sam e a polícia italiana caçando e analisando as pistas deixadas pelo serial killer através de métodos puramente científicos por meio dos mais sofisticados equipamentos de investigação forense.
Mesmo com o óbvio anacronismo do hardware da polícia científica mostrado no longa suas parafernálias high tech, mostradas em detalhes, ainda impressionam mesmo nos dias de hoje. Isso, associado a fotografia limpa e ao sensacional contraste entre luz e sombra, faz com que este filme de mais de quarenta anos de idade possua uma estética de "produção atual". Fico imaginando a maravilha visual que não deva ser assisti-lo em formato blue-ray.
E esse visionarismo elegante continuou sendo uma característica de quase toda a obra posterior de Dario Argento que com seus inacreditáveis ângulos de câmera complicados e estilosos, tomadas subjetivas múltiplas e surreais, efeitos especiais que nos deixam com o coração na boca entre muitos outros exemplos de rebuscamento técnico, que influenciaram produções-marco dos efeitos visuais, como, True Lies (EUA, 1994), de James Cameron e The Matrix (EUA,1999), dos Wachowski Brothers, torna Argento, ao lado de Brian De Palma e, mais recentemente, David Fincher, uma legítima cria de Alfred Hitchcock.
Infelizmente, os thrillers estilosos e sombrios andam meio em baixa nos últimos anos. Com exceção do já citado David Fincher, os cineastas da atualidade parecem não terem mais culhões para realizarem produções de suspense com tramas intrincadas, violência realista e efeitos especiais assustadores. Aquele tipo de filme feito não apenas para quem vê os thrillers, e o cinema em geral, como uma mera diversão, mas também para os cinéfilos, estudiosos e pesquisadores da Sétima Arte. Filmes da grife Thriller Hitchcockiano, que encontrava em Dario Argento um de seus mais ilustres, e perturbadores, representantes.
Colaborou: Matheus Ferraz e Paulo Blob Teixeira.