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LUCIO FULCIE MOTHERFUCKER!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

 Esta postagem é especialmente dedicada aos cinéfilos fanáticos por filmes de zumbis, que ainda não chegaram na casa dos 30 e que se acham muito rebeldes por curtirem a série "Resident Evil" e que acreditam que o "cinema de mortos-vivos" se resume só a isso.
 Para vocês que se enquadram nesta categoria acima, eu lamento em ter que lhes dizer uma coisa: VOCÊS AINDA NÃO ASSISTIRAM A NENHUMA PORRA DE FILME DE ZUMBI DE VERDADE, SEU BANDO DE MAURÍCINHOS E PATRICINHAS FILHOS DA PUTA, VÃO ASSISTIR MALHAÇÃO E SE ECONDEREM EMBAIXO DAS SAIAS DE SUAS MÃES SEUS BOSTAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
 Ok, se você da "geração Fiuck", da "turma do emorcore" e que adora colocar no orkut e no facebook suas fotinhos sorridente abraçado com seus amiguinhos ainda está aí, prepare-se para  saber o que é um "filme de zumbi".
 Em primeiro lugar vamos bater um papo sobre uma cosa chamada "zeitgeist". Você sabe o que é isso?
 Não? Certo, zeitgeist é aquilo que caracteriza o espírito de alguma época, década, século, etc. O zeitgeist que se impregna em algúm determinado período da história, vai certamente contaminar e marcar  todos os segmentos de uma sociedade: política, habitos sociais, moda, música, cultura pop, etc.
 Por exemplo: nos Estados Unidos dos anos 60 até meados dos 70, o zeitgeist, digamos assim, em vigor, era a rebeldia, a liberação, questionar a tudo e a todos, desde os pais e a família, até a igreja e os políticos governantes. E isso também se refletiu na cultura da época: cinema, literatura, televisão, tudo embarcou na onda da contestação, de escancarar a podridão da sociedade, de botar para quebrar. Muitos dos grandes estúdios hollywdianos abriram as suas portas (e os seus cofres) para jovens cineastas rebeldes, que possuíam uma visão de cinema completamente diferente daquela em vigência até então.
 O público da época, inflado pelas revoluções políticas e sociais que sacudiam os EUA no período, também queriam que a revolução chegasse a música, ao teatro, literatura, quadrinhos e também obviamente ao cinemas.
 Devido a isso, os  anciões retógrados proprietários das majors, ou deixavam os porra-loucas dos Coppolas, Scorseses e Lucas da vida tomarem conta de tudo, ou então os velhotes podiam fechar as portas da MGM, Fox, Warner, etc e irem fazer outra coisa da vida.
 Se nessa  época, até o cinema mainstream estava se tornando alternativo, imagine então o estado de porra-louquice em que se encontrava a sétima arte underground própriamente dita.
 Foi bem neste capítulo turbulento da história americana, que nasceu um tipo de cinema marginal conhecido como "explotation".
 Explotation são basicamente produções pobres, que usam o sexo e a violência como princiapal tema e chamariz de seus filmes.
 Explicado dessa forma, os explotations parecem serem filmes extremamente estéreis em termos de ousadia criativa.
 Só que é justamenente o seu caráter tão grotesco e repulsivo, o que tornou o cinema explotation tão audaciosamente imaginativo e original
 Para ilustrar melhor este meu raciocínio cito como exemplo uma ramificação da literatura chamado de "belo-horrível". Os professores de letras e literatura, costumam afirmar que uma ótima maneira de escritores exercitarem  a sua criatividade é narrando tramas repletas de sangue, horrores e obscenidades. Pois alegam que escrever sobre violência, desgraça, mostruosidades orgânicas e tabus libera a imaginação de qualquer tipo de amarra moral ou lógica, fazendo com que a mente criativa "navegue" por "lugares" e "mundos" que nunca conseguiria alcançar explorando apenas os aspectos positivos e prosaicos da vida e do cotidiano.
 Um exemplo de literatura belo-horrível seria o clássico universal "O Corcunda De Notre Dame" do francês Victor Hugo, em que o escritor transforma  temas grotescos e sombrios como a deformação física e cenários góticos em poesia e arrojo literário.
 Outros exemplos que eu, pessoalmente, vejo como "belo-horrível" são as obras do Marquês de Sade e "A Divina Comédia" de Dante Alighieri, considerada até hoje o maior clássico da literatura italiana. Na "Divina Comédia" percebemos de forma gritante que a sequência em que o escritor descreve os horrores do inferno e do purgatório, possui "imagens" muito mais vívidas e inesquecíveis, do que aquelas em que Alighieri narra a tranquilidade e a beleza do paraíso divino.
 Por trabalharem em um esquema de "produção de guerrilha", de forma independente, a margem dos grandes estúdios e ainda por cima turbinados pelo espírito  rebelde da época, os cineastas underground levaram a noção de "belo-horrível" as últimas consequências, era parida assim,  uma das formas de arte mais subversivas, polêmicas e mal-compreendidas de todos os tempos: o cinema explotation.
 Praticamente todas as formas e sub-gêneros mais radicais e mal-vistos do cinema, vigentes até hoje nasceram nas décadas de 60/70 durante a detonação do explotation: horror gore, filmes de artes marciais, filmes de ação "descerebrados", produções com violência splatter, faroestes spaghetti, filmes pornográficos, filmes sobre canibalismo, etc, e até mesmo películas que misturavam todos estes sub-gêneros em um coquetel alucinado de sangue, sexo e  loucura.
 Fazendo novamente uma analogia entre cinema e literatura belo-horrível, eu diria então que os filmes explotations foram a versão em película das publicações pulp muito comuns durante as décadas de 1930 e 1940. Eram livros impressos em papel barato e destinados ao público de baixa renda. As páginas dos pulps geralmente "pingavam sangue" com histórias repletas de violência escatológica e temas sombrios narradas em um estilo dinâmico e nervoso, ideal para poder ser lido de forma rápida e descartável. Também a exemplo dos explotations, as tramas pulp quase sempre se "passavam dentro" de algúm gênero considerado "menor" pela crítica: horror, policial, sword and sorcery, etc.
 E não foi só nos EUA que o vírus do explotation se espalhou. O negócio se tranformou em uma pandemia global, contaminando, do ocidente ao oriente, quase todas as indústrias cinematgráficas do planeta e transformando a sétima arte em uma "sétima maldição".
 Um dos países que mais pegaram pesado na onda explotation, foi sem dúvida, a Itália, com os seus clássicos  e cutuadíssimos giallos (que é como são conhecidos os filmes de horror italianos)
 A fórmula dos cineastas "giallos" da época era simples curta e grossa: chupar idéias e temas de produções de "cinema de exploração"que faziam sucesso no estrangeiro (principalmente nos EUA) e multiplicar por 1.000 tudo o que já era considerado violento, bizarro e moralmente ofensivo.
 Entre os vários gêneros e sub-gêneros explotation canibalizados pelos italianos, o que mais se destacou foi o "filme de zumbis".
 Cineastas como Andrea Bianchi, Bruno Mattei, Michele Soavi, etc, arrastaram os filmes de mortos-vivos para as profundezas de um lamaçal de gore, violência pornográfica e absurdos nunca antes imaginados, nem mesmo pelo "pai' dos zumbis modernos George Romero.
 Contudo, acredito, que nenhuma obra destes cineastas citados no parágrafo acima, tenha se igualado em termos de genialidade e audácia visual a "Zumbi" (1979) de Lucio Fulcie.
 "Zumbi" foi visto a época de seu lançamento com desconfiança aos olhos de críticos e fãs, que imaginaram se tratar apenas de um pastiche vagabundo da  recém-lançada obra-prima de Romero "O Amanhecer Dos Mortos".
 Porém, basta apenas desfrutarmos dos primeiros 10 minutos do filme de Fulcie, para constatarmos que estamos diante de uma nova obra-prima do "cinema morto-vivo".
 Desde os meus 12 anos (tenho 37) que eu venho assistindo a filmes de zumbi. E  já ví corps cadavres  de todos os tipos e gêneros, a maioria tão agressivos e esfaimados por carne humana como os de "Zumbi", mas nenhum de aparência tão assustadora, tão obssessivamente e doentiamente detalhados em suas decomposições orgânicas e tão realmente "mortos", quanto nesta revolucionária obra de Fulcie.
 Em seu trotar patético e assustador e em seus olhares que expressam de forma simultânea, uma tristeza profunda e tocante e uma loucura assassina, os monstros de "Zumbi" parecem arrastar em suas costas todo o peso da morte, toda a agonia insana que é ser  abandonado por seus semelhantes nas profundezas escuras da terra, toda a dor que é sentir os vermes dos abismos  devorar os seus olhos e as suas entranhas.
 Um peso, uma agonia e uma dor que se podem ser aplacadas pela vingança contra os vivos, contra a carne viva, que os zumbis de Fulcie devoram da forma mais explícita e animalesca possível,  como se fossem porcos se banqueteando no coxo de seus chiqueiros.
 Muito do horror e da verossímilhança de "Zumbi" se deve ao "mago" dos efeitos nojentos de maquiagem, Gianetto De Rossi. A "mágica negra" de Rossi, dá vida as criaturas imaginadas por Lucio Fulcie de uma forma como nunca havia sido mostrada nas telas antes, com zumbis em um estado realmente avançado de putrefação, sem olhos, descarnados, com jorros de sangue verde espirrando de seus membros arrancados e vermes (de verdade) brotando de buracos em suas carnes, fazendo com que o espectador seja quase capaz de sentir o fedor de decomposição e morte que emana de suas carcaças.
 Apesar de ser uma produção paupérrima, "Zumbi" demonstra um grande apuro técnico, e um total domínio de câmera por parte de Fulcie, que usa e abusa de ângulos extraordinários de câmera, como aqueles em que mostra as imagens do ponto de vista de zumbis emergindo das sepulturas, ou a torturante cena do olho de uma mulher sendo vagarosamente empurrado em direção a uma lasca de madeira pontiaguda. Cenas dignas de grandes mestres como Hithcock e De Palma. Também impossível deixar de citar as incríveis sequências subaquáticas do filme, coisa de dar inveja a James Cameron se levarmos em conta os recursos limítadíssimos a disposição da equipe técnica de Fulcie.
 E o mesmo capricho com as imagens, também se estendeu a sonoplastia do longa, como por exemplo na  cena em que uma personagem tem a sua garganta rasgada pelas presas de um zumbi de 400 anos de idade com um apetite secular por carne e sangue humanos. Podemos ouvir nitidamente  a voz agonizante da personagem se engasgando com o seu próprio sangue e o barulho deste jorrando para dentro e para fora da garganta da mulher em um macabro e inesquecível gorgolejo.
 Enfim, a ficção visceralmente imaginativa de "Zumbi" encontra paralelo quase que somente na literatura de mestres do horror e do fantástico como Lovecraft, King e Barker, que  nunca precisaram se preocupar com censura e restrições orçamentárias pra darem asas as suas imaginações.
 É de ficarmos imaginando o que Fúlcie não teria feito se os grandes estúdios o tivessem contratado e lhe dado liberdade criativa como fizeram com outros grandes cineastas oriundos do cinema underground como Sam Raimi e Peter Jackson.
 Infelizmente isso nunca irá acontecer (se é que um dia aconteceria), pois este grande cineasta faleceu em 1996.
 E assim, perdemos mais um diretor que poderia salvar o cinema do vírus de caretice e correção política fascista que contaminou Hollywood nas últimas décadas, um vírus muito mais mortífero do que aqueles que contaminavam os zumbis e as pessoas por eles atacados nos velhas e inesquecíveis produções de Romero, Fulcie, etc.
 Pois, a despeito da grande, até assustadora, evolução dos efeitos especiais computadorizados e do cinema digital, desde a criação do software "morph" da "IL&M em 1991 até hoje, Gollum e os Navi ainda tem muito feijão para comer até se igualarem em termos de verossilhança orgânica e precisão anatômica, as maravilhosas e aterradoras criaturas imaginadas pelos mestre da imagem Lucio Fulcie, Carpenter, Romero, Cronenberg, etc e idealizadas pelos mestres dos efeitos físicos de make-up Rick Baker, De Rossi, Winston, etc.
 Por que  como disse o cineasta underground  brasileiro Petter Baiestorf: "Chega de cinema de silicone, eu quero filmes que sangrem e suem".

1 comentários:

abonatto

Hahaha! Muito bom cara: parabéns!

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