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MÍDIA SPLATTER: INFORMAÇÃO, SANGUE E SADISMO

 Depois de eu (e todo o planeta Terra) ser massacrado de forma inclemente pelos meios de comunicação sobre o caso "Wellington Menezes De Oliveira", um psicopata (provavavelmente um esquizofrênico),  que perpetrou um genocídio contra um grupo de crianças e jovens no bairro de Realengo na cidade do Rio De Janeiro em 07 de abril deste ano, percebi como algumas obras (neste caso, um filme), são tão intrincadas e visionárias, que só conseguimos digerí-las e compreendê-las em sua totalidade somente muitos anos e muita experiência de vida depois de a termos visto pela primeira vez.
 Os assassinatos de Realento fez com que eu finalmente "acordasse" para as figadais e subversivas mensagens e ensinamentos do clássico maldito "Assassinos Por Natureza" ("Natural Born Killers"), dirigido pelo cineasta e ativista político Oliver Stone.
 "Compreender" não seria exatamente o termo adequado, pois eu havia entendido o recado proposto pela obra de Stone na hora.
 Só que eu havia apenas entendido, mas não experimentado as radicais e assustadoras teorias que o filme atirava na cara do espectador com tanta velocidade e violência quanto a própria narrativa do longa.
  Quando assisti "Assassinos Por Natureza" pela primeira vez, no hoje extinto vídeo-cassete em 1995, o que mais me chamou a atenção neste foi o seu visual agressivamente inovador, transgressivo e original. Tudo filmado com o máximo de rigor e perfeccionismo técnico. Enfim, o mínimo que eu esperaria de uma obra de Oliver Stone, que desde "Platoon" de 1986 é um de meus cineastas de cabeceira.
 Porém em 7 de abril de 2011 eu finalmente senti na pele o que a obra perpetrada por Stone 17 anos antes queria realmente me dizer: que o mundo em que vivemos é um total e completo caos, disfarçado por uma delgada e muito hipócrita camuflagem de "ordem" e "civilidade".
 Na verdade, eu acho que sempre entendi o que o filme realmente "gritava" para meus olhos e ouvidos. Só que era algo tão aterrador e macabro, que eu nunca quis, até bem poucos dias atrás, acreditar, relegando a assustadora veracidade sobre o mundo que me cerca para os cantos mal-iluminados de minha mente.
 É que é preciso ser muito macho e uma pessoa muito madura para saber, que a quase totalidade dos meios de comunicação e principalmente o jornalismo (algo que na teoria deveria ser usado para nos informar e educar) é usado na prática para nos alienar e nos manter nas trevas da ignorância.
 E o pior de tudo é saber que as ferramentas que a mídia usa para nos manipular desta forma é apelando para os nossos instintos mais baixos e animalescos.
 Sabem como as elites dominantes compostas pelos grandes conglomerados industriais,  religiões influentes e poderosas  e déspotas políticos desviam a atenção da plebe de assuntos e questões realmente importantes como um regime político verdadeiramente democrático, uma economia justa e inclusão social? Nos "alimentando" com banhos de sangue, práticas da mais absurda e profunda crueldade e desgraça alheia elevada a milésima potência.
 Isso nos leva a horripilante comprovação de que o filme de Stone estava certo: os milhões de anos de evolução, que separam o novo córtex do pré-histórico complexo-R, não bastaram para enterrar por completo a besta sanguinária que existe dentro de cada um de nós. O cérebro réptil do ser humano ainda nos domina...e muito.
 A maioria das pessoas abomina qualquer espécie de expressão cultural que contenha as palavras "horror", "terror" e "macabro". Taxam qualquer um que goste de filmes e livros de horror e de sonoridades mais agressivas como heavy  metal e rock de louco, psicopata, pervertido, etc.
 Mas essas mesmas pessoas esperam ansiosas para assistirem nos telejornais a noite mais notícias e detalhes bárbaros de crimes passionais repugnantes como o do jogador de futebol Bruno, que após assassinar sua amante Eliza Samudio, jogou os despojos dessa para serem devorados por rottweilers, respeitáveis pais de família, que nunca deixariam os filhos fazerem uma tatuagem ou colocarem um piercing, chafurdam na lama podre do apavorante parricídio da menina de cinco anos Isabela Nardoni, que a imprenssa joga para eles como tratadores jogam lavagem para os porcos, donas de casa que não perdem uma missa aos domingos e que fazem questão que seus filhos façam a primeira comunhão,  escutam religiosamente todos os  dias, programas de rádio apelativos comandados por radialistas demagogos, se deleitando com informações sobre viciados em drogas pesadas, assassinatos em massa, filhos trucidando pais e vice-versa.
 Noventa por cento da população jamais assistiria a um filme como "Canibal Holocausto" (Canibal Holocaust, Itália, 1980) de Ruggero Deodato (outra produção ultra-polêmica e taxada de "apelativa" e "amoralmente violenta", apenas porque também mostra, com as suas fortes imagens, que o homem é o maior lobo do homem), mas discutem com gosto e com um indisfarçável tesão perverso, em qualquer bar de esquina, sobre assassinos seriais e estupradores que aparecem no Jornal Nacional como se estivessem dialogando sobre o mais corriqueiro dos assuntos.
 O resultado de tudo isso é desastroso: como já foi amplamente comprovado por psiquiatras, psicólogos e criminologistas, o que um maníaco assassino mais deseja (além de satisfazer seus desejos mórbidos) é a exposição ao público, escancarar o seu sadismo doentio para o maior número de pessoas possíveis, para que estes possam se chocar ou se deliciar com os seus atos de barbárie macabra.
 Ao franquear para o grande público as atrocidades  de assassinos seriais, a imprensa age como alguém que joga carne fresca em uma savana africana abarrotada de predadores, atiçando outros serial killers e talvez, até mesmo,despertando assassinos latentes, como o adolescente de 14 anos que degolou o seu colega de 15 anos com um estilete na escola municipal de Corrente no estado do Piauí. O jovem matador confessou para a polícia local que havia acompanhado todo o caso dos "Crimes De Realengo" pela tv.
 E assim se forma um círculo vicioso: a violência alimenta a mídia e a mídia alimenta a violência.
 Para limpar a sua barra a imprensa, cínica que só ela, coloca a culpa dos crimes que ela própria ajuda a fomentar, em filmes violentos, games, livros, músicas, etc. Aquela velha baboseira de sempre, que só um junkie terminal de mídia vai acreditar.
 O problema é que existem muitos viciados em mídia por aí...
 Nos últimos anos, com o advento cada vez mais massivo da web e de outras novas e revolucionárias ferramentas de informação, o culto a violência proporcionado pelos meios de comunicação também se tornou globalizado.
 A partir do 11 de setembro, quando as redes de televisão de praticamente o mundo inteiro transmitiram em tempo real a destruição do World Trade Center, compartilhando o horror sentido pelos nova-iorquinos com o resto do planeta, a sede de sangue da população não teve mais fronteiras geográficas.
 Hoje, quando um bebê é devorado por porcos na Índia, as imagens da atrocidade são captadas ao vivo e na hora por telefones celulares "armados" com câmeras e gravadores digitais de alta capacidade e imediatamente postadas no You Tube, podendo então ser acessada por qualquer criança ao redor do globo.
 Dessa forma, a liberdade proporcionada pela convergência das mídias digitais, faz com que a responsabilidade do que deve ou não ir para o ar, não seja mais exclusiva de jornalistas e donos de grandes conglomerados de comunicação, mas sim responsabilidade de todos nós, até do mais comum dos cidadãos.
 E qual o motivo dos meios de comunicação e em especial da imprensa em mostrar tanta desgraça?
 Apenas um: dinheiro.
 No início desta postagem, mencionei que "Assassinos Por Natureza" é considerado um filme tão perturbador, porque nos revela sem nenhuma sutileza, que nosso mundo "civilizado" é na verdade um inferno selvagem, aonde os conceitos de "humanidade", "democracia" e "bondade" são apenas tolas abstrações para enganar os ingênuos e otários.
 A única coisa que evoluiu no ser humano até hoje, foi a sua sede cada vez mais implacável por riquezas e poder a qualquer custo. Toda a inovação tecnológica criada pelo homem que vai inexorávelmente se sofisticando com o passar dos anos é apenas uma consequência, um digamos assim, efeito colateral da ganância assassina cada vez maior do Homo sapiens. O resto como se diz, é resto.
 Ou você não sabia que a gênese da  internet, que muitos usam para escrever recadinhos românticos e colocar fotos de família em redes sociais, está ligado a um programa desenvolvido pelas forças armadas norte-americanas para ser utilizado como meio de comunicação para seus soldados nos campos de batalha? Ou que o próprio computador e a idéia de criar uma inteligência artificial, surgiu da necessidade dos aliados desenvolverm uma máquina capaz de decodificar os códigos secretos que os nazistas trocavam entre si? Também não sabia que os maiores avanços da medicina aconteceram graças as experiências bizarras e doentias que Josef Menguele e companhia realizavam em Auschwitz e em outros campos de concentração?
 O que? Não sabia também que a indústria mais lucrativa do mundo atual (ao lado da petrolífera e da farmacêutica) é a bélica? Afinal porque você acha que sempre existe algúm conflinto sagrento entre nações em algúm lugar do mundo? Que são lutas pela defesa da liberdade ou pelo amor a pátria?
 $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Esta é e sempre foi a resposta que justifica qualquer ação, seja ela boa ou má ( na maioria das vezes má) perpetrada pela raça humana.
 E é por isso que a nossa própria evolução tecnológica em todoas as áreas, está na maioria das vezes, atrelada a guerras, massacres e maldades.
 No fundo tudo acaba envolvendo dinheiro. Tudo é negócio.
 E é óbvio que a mídia e a imprensa, por mais que seus defensores boçais digam que não, também não acabem passando disso: negócios.
 Porque a Rede Globo e a CNN e o You Tube continuam mostrando ou permitindo mostrar todos os dias , os atos de barbárie mais impensáveis que ocorrem ao redor do planeta?
 Pelo mesmo motivo que o conflito no oriente médio não acaba nunca: dinheiro, negócios. Por que sangue, guerras, mortes e massacres são negócios muito, mas muito lucrativos.
 E não se iluda, pensando que a evolução intelectual do homem vai resolver a coisa, o ser humano pode ter um computador de última geração inteiro implantado cirurgicamente dentro de seu cérebro, que no fundo vai continuar agindo como um animal predador. E muito provavelmente quando a raça humana (se não se auto-destruir antes) conseguir finalmente alcançar as estrelas, vai arrastar consigo todas as suas mazelas, escravizando e contaminando as civilizações de outros mundos, da mesma forma que os europeus fizeram com as américas na época dos grandes descobrimentos.
 Por que como disse Oliver Stone em uma entrevista: "A violência é uma indústria, o medo é uma indústria".

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