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Fúria de Titãs: O Remake (O Dia Em Que O Stop-Motion Venceu A Computação Gráfica)


 Não sou um daqueles cinéfilos puristas que odeiam qualquer alteração, seja para o bem ou para o mal, que façam em suas obras mais amadas.
 A minha opinião é a mesma de George Lucas: a de que um filme é algo que nunca estará completamente finalizado, estando sempre em aberto e constante mutação, pronto para assimilar as inovações técnicas e artísticas que vão surgindo conforme a sétima arte evolui.
 Portanto, estava ansioso para assistir ao remake de um dos mais impactantes exemplos de cinema fantástico que eu já havia posto os olhos e um dos mais marcantes de minha infância, decisivo para a minha formação de cinéfilo.
 Infelizmente, a refilmagem do épico mitológico "Fúria de Titãs" (Clash of the Titans, EUA,1981) de Desmond Davis, segue a trilha amaldiçoada de quase todos os remakes: fica na poeira do original.
 Esta nova versão foi dirigida por Lois Letterrier, responsável pelo recente reboot de "O Íncrivel Hulk".
 Lettterrier se declarava um fã da obra original (coisa que quase todos os diretores de remakes dizem), falando que iria turbinar o novo Titãs tanto artística quanto técnicamente, transformando o encantador clássico das matinês dos anos 80 em algo mais de acordo com a tendência dos filmes de aventura atuais: mais sombrio, realista e com perssonagens mais complexos.
 A questão é que Letterrier ficou no meio do caminho de suas intenções (talvez por ficar com medo de conspurcar a magia do original), confeccionando um filme híbrido, que não se define entre abraçar um estilo mais visceral ou ficar no clima "sessão da tarde de quinta".
 O resultado é um filme que soa pretensioso e nunca cumpre o que promete.
 Há contudo algumas boas cenas: a batalha dos guerreiros contra os escorpiões gigantes e a sequência final quando Perseu enfrenta o monstro Kraken (uma criatura que realmente faz jus a palavra "titãs" do título do filme).
 O elenco não foge daquela escala que vai do mediano ao medíocre de 90% das produções pipoca hollywdianas: Sam Norringhton (Avatar), o astro do momento dos filmes de ação está tão apático quanto um efeito especial vagabundo, assim como quase todo o cas de coadjuvantes.
 até mesmo atores mais respeitados como Liam Nesson apresentam uma interpretação preguiçosa. Exceção para Ralph Finnes, soberbo e apavorante como o deus do inferno Hades.
 A caracterização de Finnes realmente expressa toda a personalidade sombria e furiosa que o seu personagem exige, uma fúria e um clima soturno que deveriam ter sido transpostos para todos os aspectos do longa.
 E o que deveria ser, assim como no original, o clímax do filme: a luta com a horripilante e asquerosa Medusa, fica muito aquém do Titãs de 1981. Ok, nesta nova versão a górgona está mais ágil e verossímil, porém, a despeito dos sofisticadíssimos softwares que os programadores  da equipe de efeitos especiais de vam ter utilizado para renderizar a personagem, a Medusa da obra original concebida pelos arcaicos efeitos de stop-motion do imortal Ray Harryhausen, continua muito mais assustadora do que a deste remake.
 O roteiro segue a ancestral trama do "aprendizado de um herói", que vem sendo recontada a milhares de  anos em quase todas as culturas, desde os velhos mitos e lendas até os modernos filmes de ação da atualidade, cuja decodificação ficou imortalizada pelo antropólogo e mitólogo Joseph  Campbell em livros como "O Poder do Mito" e "O Herói de Mil Faces".
 Trama esta que a princípio pode parecer banal e manjada, mas que se for contada com paixão e talento (seja em livros ou filmes), continua eletrizante e atual.
 E este é o problema desta refilmafem de "Fúria de Titãs", a falta de força e energia por parte de seus realizadores.
 Aqui Lois Letterrier prova que ainda não é um diretor de verdade. Neste filme Letterrier não é um cineasta, é um nerd-geek brincando com efeitos especiais da mesma forma como deve jogar vídeo-game em sua casa.
 Finalizando: "Fúria de Titãs" é programa obrigatório para fãs de cinema fantástico, mas apenas por puro saudosismo e para matar a saudade do inesquecível filme original de 1981.
 Câmbio e desligo.

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